sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Floripa, estou voltando

     Depois de uma noitada regada a refrigerante e pizza, na companhia dos meus amigos do seminário diocesano, recolho-me ao catre por volta de 1h. Acordo duas horas depois sob os acordes celestes, literalmente. A trovoada, seguida de grossos pingos, encharca Caçador. É, não adiantou mandar lavar a charrete, constato. Deixo o município que mais produz tomate por hectare do Brasil por volta de 8h. Mais uma vez perco o café da manhã. Pães de batata me esperam na padaria. A chuva persistente faz os 15º ter cara de oito. Quarenta quilômetros depois, estaciono no hospital de Lebon Régis. Lá, converso com Rose Maria, filha de João Ventura. Ele morreu aos cem anos de idade. Rose é filha do segundo casamento de Ventura. "Quando meu pai casou com minha mãe, ele já tinha setenta anos; ela, vinte e cinco. Minha mãe teve quatro filhos, duas meninas e dois 'piá'", informa a auxiliar de serviços gerais. Como um bom nordestino, que perde o amigo mas não o chiste, brinco: "que menino danado, hem". Rose ri como se estivesse sem fazer isso há décadas. Mais descontraída, diz sem deixar de lado o tom respeitoso comum aos moradores da região: "Eu nasci naquela casa que o senhor conheceu".
Rose Maria
     O avô de Rose, Chico Ventura, foi, ao lado de Euzébio Ferreira dos Santos, os principais aglutinadores da religiosidade cabocla do Contestado. Vale ressaltar que o ajuntamento comandado pelos dois era eminentemente religioso. Com o passar do tempo a coisa foi tomando aspecto de revolta popular. Rose diz que o pai pouco falava com a família sobre a guerra. "Ele contava mais para os outros, com a gente quase não contava", observa. "Eu lembro que ele dizia que era muita festa", completa. Depois arremata: "mas depois veio muito sofrimento, muita morte; aí a fome foi grande". 

    A chuva não dava trégua quando seguí para Curitibanos. O zigue-zague da estrada tinha um ingrediente - as panelas no asfalto. Por volta das 10h30 dei uma passada no Museu Histórico Antônio Granemann de Souza, de Curitibanos. De lá, fui à residência de Altair Goeten de Morais, um pesquisador local do Contestado. Uma hora de bom papo passa rápido. Enquanto o Bee Gees cantava "Feel I'm goin' back to Massachusetts", a bússola no painel apontava a direção leste - Floripa, estou voltando. 
Museu Granemann em Curitibanos
Aldair  Goeten
 

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