Hoje fui a Santa Maria, no município de Timbó Grande. Despertei com a sonzeira do Padre Lídio, mas voltei a dormir e só acordei às 7h15. Corri para o chuveiro, tomei um banho e me mandei. Antes, passei numa padaria. O sono me fez perder o café no seminário. Saí da cidade às 8h, com 11ºnas costas. E fui pelo mesmo caminho que percorri há um ano. E dá-lhe buraqueira. Quando deixei o asfalto e entrei na estrada de chão, tratei de perguntar a um motorista de caminhão sobre a situação do trecho, pois os muitos pontilhões da rodagem costumam ser levados pelas enxurradas. Ele foi no caroço da questão: "a turma puxa madeira, né?". Estrada de madeireiro, meu chapa, não pode ficar obstruída, pensei e fui com fé.
O termômetro atracou-se com os 11º. Nove horas da manhã e necas da temperatura subir. Encontrei um senhor a cavalo. Sebastião Alonso, 79 anos mora em Santa Maria e estava indo para São Sebastião. "Faço o trecho em cinco horas", orgulhou-se. Dizendo ser bisneto do famoso Chico Alonso, ele desconversou muito até contar duas ou três coisas relacionados à guerra dos caboclos. E explicou o motivo da relutância: "não gosto de falar porque fico emocionado. Eles (os caboclos) sofreram barbaridade. Meu avô contava (e aí ele deixava escapar o verdadeiro laço com Chico Alonço) que uma bainha de facão de couro cru dava um almoço".
Chueguei a Santa Maria e fui ver o monumento do Contestado. O marco, que no ano passado encontrei feito pedaços - e que o prefeito de Timbó Grande prometeu reformar - continuava lá, mais despedaçado do que coração de flamenguista depois de nove jogos sem uma vitoriazinha sequer. Ao lado, a escolinha estava funcionando. A criançada brincava no pátio. Perguntei pela professora e eles informaram que ela estava lavando a louça da merenda. Mari Luíza, 49 anos é moradora do lugar e leciona desde 1994. Formada por uma faculdade à distância, acumula as funções de professora, zeladora, merendeira e diretora da escola. E recebe apenas o salário de professora - R$ 500 e pouco. Para piorar, os alunos são de idade e séries diferentes. Todos unidos por uma única professora dentro de uma sala de aproximadamente 50m2. E que está reduzida de tamanho devido a um rombo no assoalho. Olho para o "futuro da nação" e imagino a dificuldade que será o futuro de Santa Maria.
Em Timbó Grande conversei com o secretário de agricultura do município, Édson Luiz, e ele disse que "tem três escolas em Santa Maria; deve ter uns cem alunos". De quebra, informou o nome da zeladora da escola. Como houve muitas mortes por lá, na época da guerra, imaginei que a tal zeladora deve ser um fantasma. Encontrei o operador de máquinas da prefeitura Erico Groskopf, 47 anos. O salário dele? R$ 729,00. E pensei comigo: é muita teimosia querer ser professor no Brasil. Fui ao secretário de educação, José Guedes, e ele discordou da versão contada por Édsom, confirmando a situação que presenciei. Quando perguntei se a professora não estava tendo acúmulo de função ele foi categórico: "sobre isso não posso responder". De cara amarrada, encerrou o assunto. O Contestado, paisano, está com o passado comprometido e com o futuro hipotecado. Depois completo esta postagem.
Pontes e pontilhões são um risco em época de chuva - ponte sobre o rio Caçador Grande |
Sebastião Alonso |
Luiza e seus alunos |
Dar aula, preparar a merenda e lavar a louça |
Assoalho comprometido reduz espaço da sala |
É triste, meu caro Gilead, perceber que a matança do passado foi feita em nome de um progresso que hoje constatamos NÃO ter havido. Foi por pura exploração e ganância do homem "civilizado" contra o cabloco "ignorante" (quem é o verdadeiro ignorante na história do contestado?)
ResponderExcluirEsta é a grande razão para as autoridades catarinenses de outrora e de hoje fazerem tanta questão de esconder ou minimizar a importância uma história tão recente (100 anos na história é nada, é pó).
Belo trabalho o seu. PARABÉNS!
O problema é que 4 anos de atraso valem só uma sesta basica que não da pra um mes
Excluir"Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.
ResponderExcluir(...) é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.
Paulo Freire
(anonimo...)
ResponderExcluirÉ CARO AMIGO,ESSA É SÓ UM PEQUENO PEDACO DA SITUACAO EM QUE TIMBÓ GRANDE SE ENCONTRA,ALGO QUE SÓ FICA EM PROMESSAS E PAPEIS E NINGUEN NUNCA VE NADA DE DIFERENTE,NOS DAQUI CONTINUAMOS A SER IGNORANTES E CADA VEZ MAIS...
IGUAL AO CABOCLO DO CONTESTADO A 100 ANOS ATRAS... BOA SORTE PRA VC...E CONTINUE A ESCREVER AS VERDADES QUE VC ENCONTRA POR ONDE PASSA...VALEU POR NAO TER MEDO DE FALAR...
(anonimo...)
ResponderExcluirÉ CARO AMIGO,ESSE É SÓ UM PEQUENO PEDACO DA SITUACAO EM QUE TIMBÓ GRANDE SE ENCONTRA,ALGO QUE SÓ FICA EM PROMESSAS E PAPEIS E NINGUEN NUNCA VE NADA DE DIFERENTE,NOS DAQUI CONTINUAMOS A SER IGNORANTES E CADA VEZ MAIS...
IGUAL AO CABOCLO DO CONTESTADO A 100 ANOS ATRAS... BOA SORTE PRA VC...E CONTINUE A ESCREVER AS VERDADES QUE VC ENCONTRA POR ONDE PASSA...VALEU POR NAO TER MEDO DE FALAR...
Gostaria que o morador (a) de Timbó que fez o último comentário entrasse em contato comigo pelo gileadmauricio@gmail.com
ResponderExcluirAbç.
conheço muito bem esta escolinha fazem uns nove anos que eu conheço esta da mesma forma e cada vez piorando mais
ResponderExcluiro descaso dos governantes para com a populaçao é impressionante. a educaçao aqui é de péssima qualidade o próprio prefeito é um completo ignorante q desconhece a história da cidade.
ResponderExcluirO problema se extende por todos os setores não só a educação
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