sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O mato do tigre e o campo do gato

         O que comemoramos no dia 22 de outubro? Faço a pergunta porque somos instigados a decorar datas desde os primeiros anos de colégio. Quem descobriu a América? Em que dia? Qual a data que marca o início da primeira guerra mundial? E a da queda da bastilha? Chegavam a me obrigar a saber o dia em que Constantinopla foi tomada pelos turcos! Pode uma coisa dessas? O interessante é que a história do Brasil, a nossa história, ficava em segundo plano. Claro, em segundo, não, em quarto, quinto e sexto. Quer saber se tenho razão? Entre nos portais de história, nos sites de governos e procure saber o que aconteceu no dia 22 de outubro. Se você é catarinense, acesse o site do governo de Santa Catarina. Duvido, com tudo quanto é tipo de D, que você encontre o fato mais marcante na história catarinense ocorrido nessa data.
          Na manhã de 22 de outubro de 1912, no local chamado Banhado Grande, foi acesso o estopim daquela que seria a maior guerra envolvendo o exército brasileiro em nossas terras – a Guerra do Contestado. O Banhado Grande era um povoamento de posseiros onde hoje fica o município de Irani/SC. À época a região era disputada por Paraná e por Santa Catarina. Nunca houve, ressalte-se, um entrevero militar entre os dois Estados. De direito o local pertencia a Santa Catarina. O Paraná não aceitava a decisão da suprema corte e insistia em morder um pedaço do vizinho. Vamos aos fatos.
          José Maria, um curador de ervas e conselheiro espiritual, chegara ao Banhado. Tinha vindo de Taquaruçu. Era um líder religioso. Alguns o chamavam de monge. Devido a uma contenda entre coronéis catarinenses, teve que sair às pressas para os Campos de Palmas – toda a região em que ficava o Banhado Grande estava sob controle do Paraná, e no município de Palmas. Era, na verdade, um território livre. Tinha, entretanto, um dono, o coronel Juca Pimpão, de Palmas. Sem nunca ter colocado os pés por lá, tinha dão um jeito de escriturar tudo em seu nome. O governo do Paraná, protegendo o território e defendendo o interesse do coronel, resolve prender os “catarinenses” intrusos.
          Envia o coronel João Gualberto para o Banhado. A tropa militar era composta por 50 praças e sete oficiais. Confiavam cegamente na metralhadora que levavam. Quando José Maria soube que Gualberto estava chegando, propôs conversar, pois não tinha interesse político nem econômico, estava lá por ter sido expulso de Taquaruçu. Gualberto não deu trela, marchou com seu regimento para amarrar os “desordeiros” e levá-los a Curitiba. Quando o dia clareou deu-se o combate. Morreu Gualberto, Morreu José Maria.  A força policial nem chegou a usar a metralhadora, pois essa engasgara. Foi aberto um processo em Palmas, para apurar o combate. É conhecido como o Processo do Irani. Tenho a cópia desse processo digitalizada. Foi feita pelo historiador Paulo Pinheiro Machado e repassada às minha mãos pelo Jornalista catarinense Celso Martins, autor de um magnífico livro sobre o tal combate.
          Ou seja, o Combate do Irani está na origem da Guerra do Contestado. E a data vem e vai, ano após anos, sem ser destacada. Porque será que tentam - e como tentam – esconder a história de luta dos brasileiros? Porque nossos heróis são esquecidos? Será que tem a ver com a formação dos grandes latifúndios? Será que tem a ver com a formação das grandes riquezas? Sugiro, amizade, que adquiras o livro do Celso, O mato do tigre e o campo do gato, e mergulhes no dia 22 de outubro de 1910. Essa, sim uma data que deveríamos ser obrigados a lembrar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Décimo dia - A história pulsa

O centro de Curitibanos, na época da guerra, era aqui
Décimo dia da expedição
Destino: sede da antiga superintendência (prefeitura) de Curitibanos incendiada pelos sertanejos.
Distância: 100 km
          Choveu durante toda a noite em Caçador. A cidade estava precisando da água, pois a estiagem durara quase dois meses. E os sertanejos catarinenses não poderiam suportar mais um mês de seca, conforme ouvi de vários agricultores do lugar. Confesso que as confissões dos trabalhadores fizeram-me lembrar da força e da coragem dos moradores do sertão nordestino. Os caras agüentam até mais de um ano sem chuva. Quando um pecuarista de Timbó Grande me contou que várias reses haviam morrido e que era preciso da ajuda do governo, caso não chovesse, recordei das críticas – duras, diga-se de passagem – que ouço à política do governo Lula. Vezes sem conta escuto gente bradar: “esse papo de bolsa família é puro assistencialismo. Quem quiser que trabalhe para ganhar dinheiro”. Menos de dois meses de estiagem são mais do que suficientes para provar que pimenta nos olhos dos outros é colírio. E se você, nobre cúmplice meu, é meio desbocado, pode substituir os olhos e o colírio por outras palavras mais próprias. Acordei de madrugada e, egoisticamente, pedi a Deus para que fechasse as torneiras no dia seguinte. É brabo pilotar na chuva.
 12 reses haviam morrido nos últimos dez dias aqui
          Às sete horas fiz meu desjejum na companhia dos meus novos amigos. Minhas preces não foram ouvidas; a chuva persistia. Lá pelas oito o aguaceiro amainou e pude pegar a estrada. Não sem antes me despedir dos companheiros de QG. Dei uma parada na oficina e pedi para apertar a corrente, jogar um óleo nela e passar graxa. Depois foi só alimentar o alazão e deixar Caçador para trás. O asfalto molhado, e melado de barro, era uma ameaça à motocicleta. As muitas estradas vicinais são puro barro vermelho. Quando chove, o barro vira uma pasta que gruda nos rodados dos caminhões. Conclusão: os caminhões deixam um rastro enlameado no asfalto. É um sabão. Menos de vinte quilômetros de percurso foram suficientes para me alertar do perigo que me aguardava. Enquanto descia um morro vi alguns galhos de árvore no meio da pista. Diminuí a velocidade e quando cheguei à curva me deparei com uma carreta tombada. O motorista, que seguia no sentido Curitibanos-Caçador,  perdeu-se e invadiu a mão contrária. Parei a moto e logo chegou uma viatura da polícia. O caminhoneiro saiu ileso. O guarda me alertou: “Tá chovendo em todo o Estado. Prepare-se para pegar muita chuva”. Agradeci o aviso e segui.

Um aviso para ficar experto
          Quando cheguei a Lebon Régis fui até a casa de dona Nercina, a neta de Neco Pepe que tem um museuzinho em casa. Quando eu a visitara, no domingo, falei-lhe de um livro que contava a história do avô dela. Prometi-lhe fazer uma cópia e, quando fosse para Curitibanos, passaria passaria em sua casa e lhe entregaria. Nem a chuva forte impediu-me de cumprir a promessa, afinal de contas não sou nenhum presidenciável. Aproveitei o ensejo e fiz algumas fotos de uns bairros onde os moradores descendem dos caboclos espoliados da Guerra do Contestado. Quanta pobreza.
Bairro onde a maioria dos moradores descende dos caboclos da guerra
          Na beira da estrada que liga Lebon Régis a Curitibanos tem uma capelinha em homenagem a São João Maria. Claro que fiz umas fotos. Os 50 quilômetros entre as duas cidades foram sacrificantes. A chuva apertou. Os buracos da estrada, embora pequenos, aumentavam o risco de queda. É que a lâmina d’água esconde os “marditos”. É preciso manter os olhos bem abertos e os pulsos firmes, caso contrário, mais um número para as estatísticas de acidentes de moto. Passava das onze horas quando cheguei a Bundaritibunda – é como costumo chamar a cidade onde nasceu meu amigo Bruno. Não é falta de respeito, acredite. É pura brincadeira. Falta de respeito pela cidade quem teve foi o coronel Albuquerque, antes, durante e depois da guerra do Contestado. Curitibanos foi incendiada pelos jagunços, frisam certos historiadores. Na verdade foram queimadas a sede da superintendência (prefeitura), o cartório e as casas dos correligionários do coronel Albuquerque. Visitei o museu, fiz algumas fotos do local onde ficava a antiga prefeitura e me mandei.  
Capela de São João Maria - Lebon Régis

Praça da República - Destaque para o museu

           Almocei em Lages, na casa de um casal muito querido. A senhora é descendente da família Ramos, a maior oligarquia catarinense no período da Guerra do Contestado. Por volta das 14 horas peguei a BR-282 com rumo a Florianópolis. A viagem transcorreu sem nenhum incidente. Passava das 17h quando subi a rampa do prédio em que moro. Estacionei a motocicleta, tirei a bagagem e dirigi-me ao elevador.  Um banho quente e demorado me esperava. Depois do banho, estiquei-me na cama e vi minha mente ser sacudida por pensamentos, sentimento e certezas. Foram dez dias de contato com uma história que ainda pulsa no sertão de Santa Catarina. Dez dias de convívio com pessoas simples que acreditam em um santo – João Maria – que não merece nem um email do Vaticano. Dez dias de mergulho em um lugar cujas pérfidas e avaras atitudes de homens públicos transformaram em vergonha. Dez dias no seminário diocesano de Caçador, cujos seminaristas e padres, sem exceção, jamais serão esquecidos do meu coração. Dez dias vendo a miséria de muitos se dobrando a riqueza exploradora e maligna de tão poucos. Dez dias nas terras em que andaram homens que não aceitaram se dobrar ao canhão do tirano dominador. Dez dias aprendendo que uma história, por mais que os governantes queiram apagá-la, pulsa. E pulsa. E pulsa. Há tempos eu não chorava.

"Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira..."

Legiao Urbana
Composição: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Nono dia - "Plante pinus"

Exposição - Museu de Caçador
        Hoje é o nono dia da expedição. Acordei às seis da manhã com a música do padre Lídio. Chovia forte em Caçador. Demorei um pouco a me levantar e quando cheguei à cozinha o pessoal já se divertia com o café e com a conversa descontraída. É importante ressaltar que as refeições no seminário são sempre muito animadas. Em tudo a turma acha um motivo para risadas. O padre Lídio é sempre alvo de brincadeiras. Fico admirado com a capacidade que ele tem de entender a rapaziada. Ao mesmo tempo em que é austero, é amoroso. Minhas visitas aos antigos redutos acabaram. Só me resta ir a Três Barras e Canoinhas, no norte do Estado – que não fui ontem devido a chuva. Farei isso amanhã, no décimo dia. Sendo assim preferi fotografar a cidade de Caçador, entregar alguns livros que peguei emprestado do historiador Nilson Thomé e do museu, entrevistar profissionais que pudessem falar sobre o pinus elliotis. É que o pinus invadiu as terras do Contestado, conforme venho escrevendo. Para todo lado que a gente olha vê plantações do pinheiro americano.
          A chuva não dava trégua. Ficava difícil sair de moto para andar dentro da cidade. Resolvi ir a pé. O seminarista Édson de Bortoli me emprestou um guarda chuva. As horas seguintes iriam mostrar que o objeto servia para eu guardar a chuva; na cabeça, nos ombros e no bolso, se preferisse. Fui até a FUNDEMA – Fundação Municipal do Meio Ambiente. Entrevistei o presidente da instituição, André Francisco Canalle. Ele foi enfático: “Se proibir o plantio do pinus a região para”. E completou: “Sou a favor do pinus”. Dalí eu dei uma passada no museu e devolvi o livro que pegara emprestado com meu amigo Júlio Corrente, coordenador do museu. Já passava do meio dia e ele me deu uma carona até uma churrascaria. Eu já conhecia o lugar e estava ávido para saborear o melhor sagu do Brasil. Olhe que eu entendo de sagu. E posso garantir: em Caçador está o melhor. Fiz a digestão enquanto me dirigia à EPAGRI.
          Na EPAGRI entrevistei Dorvílio Buffon, técnico que dá orientação para agricultores. Ele não titubeou: “Essa história que o pinus seca as águas é bobagem. E também a terra não fica empobrecida, ela já é pobre”. Depois me revelou como costuma orientar os agricultores: “Plante pinus”. Saindo de lá eu fui até a FATMA e conversei com o engenheiro agrônomo Aido Ortolan. Ele confirmou o discurso de Dorvílio: “O pinus não empobrece o solo nem seca as águas. Isso é balela. Existem estudos que comprovam o que estou falando. Nossa região tem características favoráveis à plantação do pinus”. Saí da FATMA e fui até a casa de Nilson Thomé. Conversamos um pouco e devolvi-lhe o livro que pegara. Voltei para o seminário e avisei para o pessoal que estaria indo embora na manhã seguinte. Fomos até o supermercado e compramos algumas coisas para nos confraternizarmos.
          Foi aí que o padre Gilberto Tomazi, 40 anos, contou-me uma que aprontaram com o padre lídio. Pegaram uma correspondência que um político enviara para o ancião e botaram R$ 2,00 dentro. Venhamos e convenhamos, ô voto barato! Enquanto todos riam, padre lídio só balançava a cabeça. Depois defendeu-se: “Eu sabia que era brincadeira deles”. Se sabia ou não, vou ficar na dúvida. Amanhã eu vou a Canoinha e depois a Três Barras. No fim do dia voltarei para Florianópolis. Minha estada em Caçador chegou ao fim. Foi muito bom. O convívio com os seminaristas e padres não poderia ter sido melhor. Levarei saudades do “Di Cáprio", do Clayton, do Édson, do Edilson e do “monge  João Maria", conhecido por Hilton – todos seminaristas. Agradeço muito a presteza e boa vontade dos padres Gilberto Tomazi, João Casara e Lídio Milani. Até a próxima, Caçador.
Caçador

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Oitavo dia - permita-me a rima

Museu do Contestado -  Matos Costa
Oitavo dia da expedição
Destino:
 Acampamento das tropas do general Setembrino de Carvalho – Porto União
Túmulo do capitão Matos Costa – Matos Costa
Madeireira Lumber – Calmon
Distância:
Porto União – 84 km
Matos Costa – 49 km
Calmon – 21 km

          Acordei às quatro e meia da manhã com o estampido dos trovões. “Ih, minha viagem não será fácil”, pensei. Cinco horas - começou a chover forte. Dez minutos se passaram e o aguaceiro cessou. Seis horas - musica para acordar. Seis e meia - café da manhã. Chuva. Oito horas - abastecimento da moto e calibragem dos pneus. Na hora de sair, novo pé d’água. Quando a chuva deu uma trégua eu segui na direção de Porto União, cidade onde as tropas do general Setembrino desembarcaram para combater os sertanejos catarinenses. Foi lá, também, que o coronel João Gualberto acampou, antes de ir para o Irani combater as hostes de José Maria, conforme contei no segundo dia desta expedição. Confesso que saí de Caçador em dúvida: “Vou a Porto União ou vou direto a Três Barras, onde ficava a sede da madeireira Lumber, que varreu as árvores de Santa Catarina no início do século passado?” Poucos quilômetros de estrada me fizeram decidir por Porto União.
Oh, dúvida cruel
         Foram necessários apenas cinco quilômetros para decidir meu rumo. Uma forte chuva impedia que eu ultrapassasse os 70 km/h. A água que descia das barrancas criava grossos rios sobre o asfalto. Minha sorte era o asfalto novo. Só quando me aproximei de Porto União foi que encontrei buracos na pista – nada de mais para quem peregrinou por Timbó Grande. O vento lateral empurrava a moto para fora da pista. Eu precisava ter punhos firmes e muita perícia, principalmente nas curvas. Ponto positivo? Não havia tráfego. O frio, entretanto, me forçou a usar uma balaclava de lã. Resultado: meus óculos e a viseira do capacete embaçavam a todo instante. Era preciso abrir a viseira o tempo todo. Aí já viu o friozão, não é? Para complicar mais, a cerração aumentava a medida que eu subia a serra na direção de Matos Costa. Os mais de 1.200 metros de altitude da cidade tornam-na uma morada para o frio e para a neblina. A roupa de cordura evitava que o Gile se molhasse. A luva que eu comprara na véspera da viagem, revelou-se resistente à água. Não impedia, porém, que o frio castigasse meus dedos. O problema maior eram os pés molhados. A bota não suportou cinco minutos de chuva. “É, Três Barras, vais ficar para outro dia”, resolvi.
Pilotagem exigia atenção redobrada
          Por volta das dez da manhã cheguei a Porto União. Meu amigo Delmir Valentini, historiador, indicou-me um nome para procurar na cidade – seria meu guia. Parei em um posto de gasolina e perguntei a uns policiais: “Vocês sabem onde posso encontrar o professor Helói Tonhão?” Os fardados trocaram cochichos e formataram uma resposta simpática: “Conhecemos um professor Helói; o senhor vai achá-lo na universidade”. Só depois percebi que a resposta foi simpática. Ensinaram-me como chegar à universidade onde trabalha “Tonhão”. Fui recebido pelo professor com muito carinho. Ele levou-me para conhecer o local da antiga estação, onde as tropas militares desembarcavam e acampavam em um plano logo abaixo. Foi comigo por diversos lugares e não poupou o corola pelas ruas da cidade. De fato, o Delmir tinha razão: “Tonhão”, permita-me a rima, era um perfeito anfitrião. Voltamos para o escritório dele e quando ele me presenteou com um livro que escreveu sobre o Contestado foi que percebi a “simpática” resposta dos policiais. O nome do cidadão era Helóy Tonon. Lembrei da lição: “cuidado ao anotar o nome de uma fonte”, orientou-me, certa vez, meu amigo e mestre Billy Culeton.

Gramado à margens do rio Iguaçu onde acampavam as tropas de Setembrino

Professor Helóy "Tonhão"
         Por volta das onze e meia peguei a estrada de volta. Sorte minha, não chovia. O verde do pinus poluía o horizonte. Veio-me à lembrança as palavras de vários agricultores com os quais conversei nesta jornada: “O pinus vai acabar com as nossas águas”. Parei em São João dos Pobres, atual Matos Costas e fui ao museu. O estabelecimento estava fechado. Perguntei onde morava a administradora do guardador de histórias. Encontrei com facilidade. Perguntei se ela podia abrir o museu e depois me mostrar o local exato em que mataram Matos Costa, o militar que entendeu a causa dos sertanejos. Eu trazia na bagagem um livro autografado pelo professor “Tonhão”. Ele aproveitou minha visita e pediu que eu entregasse o exemplar para ela, que foi aluna dele no curso de História. Josete foi muito solícita. Neta de uma bugre e de um polaco, Josete Dambrowski desdobra-se para manter o museu aberto. Ela guiou-me até o túmulo do capitão. É perto da cidade. Bastaria pegar a SC que leva à BR – 153. Não deu um quilômetro de estrada, se é que podemos chamar aquilo de estrada. A terra, ou melhor, os buracos estavam cheios de lama. E eu que pensava não me deparar mais com o descaso de governantes, enlameei novamente a montaria. Não deveriam ter mudado o nome do município; tinham que ter mudado o município. Continua pobre.
Todos os caminhos levam ao pinus
 
Historiadora luta para manter  museu em Matos Costa

Túmulo de Matos Costa
          Às três da tarde acelerei na direção de Calmon. Calmon tinha, na época da Guerra do Contestado, uma serraria da madeireira Lumber. A empresa era uma espécie de instituição irmã da Brazil Railway – a construtora da estrada de ferro que provocou o desalojamento dos moradores da região. A sede da Lumber era em três Barras. Os jagunços revoltados botaram fogo na serraria e mataram alguns funcionários. Fui à prefeitura e perguntei se algum funcionário poderia me explicar onde ficava a antiga serraria. A recepcionista, assustada, respondeu que “só quem sabe explicar é o JB, e ele não está na cidade”. Perguntei se niguém, além do citado, conhecia a história da cidade. A cada pergunta minha, a assustada ia até uma sala e voltava com uma resposta vazia. Só quando eu pedi o nome dela foi que ela correu até a saleta e voltou acompanhada de uma senhora que não entendia nadica da história do município. Depois veio um rapaz que se dizia entendedor da cidade. Perguntei em que lugar ficava a Lumber. Ele disse que essa parte antiga ele não conhecia. Perguntei se é possível conhecer uma cidade quando se ignora sua história e ele assumiu: “É, realmente, não conheço”. Nem vou falar a respeito da prefeitura. Um prédio luxuosíssimo que, fora de brincadeira, quase comporta, apenas no hall, a cidade inteira.
Aqui ficava a antiga serraria da Lumber
Prefeitura é maior que a cidade
          À duras penas localizei Márcio Fragoso, um guia turístico muito educado e prestativo. Ele mostrou-me o terreno onde ficava a antiga serraria e contou-me um pouco sobre o município. Passava das quatro da tarde quando me despedi de Fragoso. Por volta das cinco cheguei à prefeitura de Caçador. Depois segui para o meu QG. Um banho quente e demorado me restabeleceu. Por volta das vinte horas jantei na casa do meu amigo, agrimensor Juruá. Onze horas, hora de dormir.




domingo, 19 de setembro de 2010

Sétimo dia - "Se não for o pinus é o que? "

Sétimo dia da expedição


Destino: Santa Maria – Município de Timbó Grande
Distância: 42,5 km – 14 km de asfalto e 28,5 de estrada de terra

          Acordei um pouco antes das sete. Tomei café e conversei um pouco com meus amigos de QG. Saí de Caçador exatamente às 8h30. O frio era intenso devido ao vento forte e constante. Peguei o rumo de Lebom Régis, com destino ao vale de Santa Maria – reduto onde se travou o grande combate do exército. Saindo de Caçador eu segui placa no sentido do aeroporto. Um pouco antes do aeroporto vi uma placa que indicava Timbó Grande. O pedregulho sinalisava meu rumo. A estrada estava deserta. Minha companhia era o vento gelado. Ele não dava trégua. Vez por outra valsava na minha frente e a terra seca, castigada por quase dois meses de estiagem, espalhava uma poeira agitada em forma de redemoinho. Nem preciso dizer que a estrada era ainda pior do que a de ontem. Uma certeza me invadiu: para se abrigar por ali, os sertanejos queriam mesmo fugir de tudo e de todos. Sigo devagar, parando aqui e acolá para tirar umas fotos.

Entrada para Timbó Grande/Santa Maria


A festa do vento
Êta,estrada!
A estrada corta o rio ou é o contrário?

          Por volta das 11 horas chego ao lugar onde está o marco do Contestado. Daqueles colocados pelo governo de Espiridião Amim nos locais de combate. Fica do lado esquerdo da estrada, assim que se desce a serra. É bom sempre pedir informações aos moradores – são poucos, mas prestativos. O monumento estava destruído, as placas jogadas no chão. É o abandono da história, por parte dos governantes. Encosto cada placa na moto e faço uma fotografia. Se eu quisesse poderia levar para casa. Não havia ninguém para cuidar. Um morador local, João Soares, 29 anos, me disse que um caminhão da Celesc bateu no monumento quando manobrava. Segundo ele, já faz mais de três anos. Saí de lá e fui conhecer o cemitério dos jagunços. Quem me levou até lá foi Antenor Meireles Prestes, 58 anos, nascido e criado no lugar. “Meu avô foi jagunço. Ele contava as histórias do tempo dos jagunços e chorava. Começava mas não conseguia terminar. Foi muito sofrimento”, lembrou. Meireles me conduziu até o antigo cemitério. Na verdade, ao que sobrou da cidade dos pés juntos. A maior parte do local foi transformada em açude pelo proprietário, o ex prefeito de Timbó grande.
O que sobrou do marco do Contestado
Placas estão abandonadas

Açude invadiu o cemitério

Meireles - "Meu avô foi jagunço"
           Dalí eu fui para Timbó Grande, onde os jagunços se reorganizaram depois da destruição de Santa Maria. Na frente da igreja católica da cidade tem um marco do Contestado em perfeito estado de conservação. Para alguns historiadores, a igreja foi erguida exatamente no lugar em que ficava a casa de Adeodato, o último líder dos sertanejos. Em seguida fui entrevistar o prefeito de Timbó Grande, Valdir Cardoso dos Santos, 55 anos. Durante todo o trajeto pelo interior do município percebi a imensidão das plantações de pinus elliotis. Perguntei a ele se isso não causaria um desequilíbrio ambiental e ele respondeu que “se não for pinus vai ser o que? “ Pergunto o motivo do descaso com o sítio histórico e ele dize que é de Caçador e mora em Timbó apenas há 26 anos, e por isso não conhece bem a parte histórica do município. Comprometeu-se, porém, a restaurar o marco que está em Santa Maria. “O que tem na frente da igreja foi em quem restaurei”, informa o político e plantador de pinus. 
Igreja onde ficava a casa de Adeodato
Pinus, "Se não for ele é o que?"
           Só me restava voltar. Decidi retornar por outro caminho, pelo asfalto que conduz a Santa Cecília. Dei  uma volta enorme, mas o trajeto compensa porque a estrada é ótima e praticamente não tem trânsito. Ao passar em Lebom Régis fui visitar a casa de dona Nercina do Valle Rocha. O avô dela era padrinho de Adeodato e foi assassinado pelo chefe dos jagunços. Ela mora em uma casa edificada no mesmo local em que residia o avô, Neco Pepe.Nos fundos da residência tem um túmulo erguido no local onde o avô foi fuzilado pelo afilhado. “Foi uma covardia, assassinar o padrinho... Ele trabalhou para meu avô. O pai dele era compadre do meu avô...”,  indigna-se dona Nercina. Quando Adeodato matou Neco Pepe, incendiou a casa. A única coisa que não queimou foi um portão de imbuia. A peça está guardada até hoje dentro de um paiol – claro, fiz uma foto. Esse episódio é contado por Maurício Vinhas de Queiroz em seu livro Messianismo e Conflito Social. Depois de um ótimo café da tarde retornei a Caçador. Estacionei a moto no seminário um pouco antes das 18h30.
Neta de Neco Pepe preserva o lugar onde mataram seu avô


sábado, 18 de setembro de 2010

Sexto dia - "Minha vó foi pega a cachorro"


Estrada corta propriedades

Sexto dia da expedição
Destino: Caraguatá – município de Lebon Régis
Distância: 35km – 23,5 km de asfalto e 11,5km de estrada de terra

          Acordei de súbito e dei uma espiada no relógio. Faltavam três minutos para as sete horas. “Caramba – pensei – dormi tanto que nem escutei o despertador do padre Lídio”. Enquanto arrumava a cama fui surpreendido pela música alta da vitrola do ancião. Logo entendi que, por ser sábado, o horário de despertar era aumentado em uma hora. Tomamos café por volta das sete e meia. Conversamos bastante. O tipo de desjejum que eu precisava para encarar mais um dia de expedição com alto astral. Saí de Caçador por volta das oito e trinta. Peguei a rodovia SC-302 com destino ao vizinho município de Lebon Régis. Eu meço a distância entre os lugares à partir da praça da carroça, no Centro de Caçador. Viajei por 23,5 quilômetros e cheguei à localidade de Faxinal São Pedro. Entrei à esquerda, seguindo placa para São Sebastião do Sul. Mais uma estrada de terra. Essa ainda é pior do que a de ontem.
Entrada para Caraguatá - a placa indica São Sebastião do Sul

Que beleza de estrada
           Sabendo que a distancia a percorrer era pequena, fui bem devagar. Aproveitei ao máximo a paisagem do lugar. Parei para contemplar a gralha azul, ave típica da região com mata de araucária. Como eu piloto com a câmera no pescoço, facilita o liga e desliga do equipamento. Cada paradinha rápida, uma foto. Depois de 6,5 quilômetros cruzei a ponte sobre o rio Caraguatá. Bem na beira da estrada, do lado direito, fica um marco da Guerra do Contestado. Os monumentos foram colocados pelo governo do Estado quando Espiridião Amim era governador. As placas tinham sido arrancadas. Restou a enorme pedra, em formato retangular, que servia de suporte para as chapas metálicas. Quem fez isso? Ninguém sabe, ninguém viu. Um morador revelou haver gente que ficara descontente com o monumento. Segundo essas pessoas o governo estava tratando os bandidos como se fossem heróis. O homem pediu para não ter o nome divulgado.
Ponte sobre o rio Caraguatá - à direita, marco do Contestado

Vandalismo ou tentativa de esconder a história?
          De um lado e de outro do caminho as fazendas de pinus elliotis tornam a paisagem uniforme. Paro e fotografo a parte de baixo dos pinheiros. Não tem vida. É escuro e seco, cheio de grimpa. A monocultura está dominando o lugar. Andei mais 5 quilômetros e cheguei a uma planície verde e limpa. Do lado esquerdo, em um pequeno aclive, notei outro monumento do governo à Guerra do Contestado. Esse está incólume. Umas poucas casas, uma igreja católica e um cemitério. Tinha chegado a São Sebastião do Sul.  Era onde ficava o reduto de Caraguatá. Nesse reduto os caboclos derrotaram uma expedição do exército. Foi em Caraguatá, também, que o exército, mais tarde, declarou o fim da guerra e o extermínio dos sertanejos. Interessante que São Sebastião surgiu quando um casal doou ao santo uma área para ser criada a vila. O escritor Paulo Pinheiro Machado conta o episódio em sua tese de doutorado. A doação foi registrada em cartório.
Pinus elliotis
        
Cadê a vida?

E quem é louco de entrar?


Pinus de um lado e do outro
         Encontrei Dirceu Brasil Moreira, 40 anos, agricultor. Nascido e criado em Perdizes. Perdizes, Caraguatá e São Sebastião são nomes dados à mesma localidade em diferentes momentos. Dirceu é agricultor e planta tomate, feijão, milho e pimentão em 200 alqueires de terra. Pergunto sobre a forte estiagem que castiga o lugar – quase dois meses sem chover – e ele é taxativo: “quem vai acabar com a água é o pinus. Descendente de caboclos ele conta que a vó “foi pega a cachorro”, isto é, era índia e foi capturada no mato.        
A vó desse homem era bugre e foi capturada no mato
           Segui para a casa do senhor Artur Granemann de Souza. Oitenta e quatro invernos em Caraguatá. “Teve vezes que a neve dava mais de um palmo”, afirmou. Ele narrou em detalhes a história do lugar. “Aqui tinha até casa de comércio”, lembrou. Quando perguntei pela  religiosidade cabocla ele me surpreendeu: “Um irmão do falecido meu pai era afilhado de São João Maria”. Percebi que a crença cabocla tomou conta de todo tipo de morador do sertão. Não importava a origem, não importava a raça, São João Maria era o cara. Seu Artur não tem boas lembranças do tempo dos conflitos: “Minha mãe contava que a casa dela foi queimada pelos jagunços”, lamentou. Ele disse que as pessoas que não seguiam os jagunços tinham  as casas incendiadas. Findei almoçando na casa do seu Artur. A comida estava uma delícia.
Artur Granemamm
         Depois do almoço, a filha dele, Nilva Granemann, casada com um primo, também Granemann, trouxe-me o livro da capela do povoado. Ali estava registrado um fato interessante: a imagem de São Sebastião que tem na igreja é a mesma que os jagunços tinham em seus redutos. Quando saí de lá, fui até o templo e fotografei a escultura. Depois subi em uma cadeira e verifiquei que a imagem tinha escapado de um incêndio. Tinha restos de tisne que sujaram a minha mão ao tocá-la. É um forte indício da veracidade da história. Depois disso, montei na minha égua amarela e voltei para Caçador. Após várias paradas, cheguei ao meu QG por volta das cinco da tarde. Hora de um banho quente. Amanhã irei a Santa Maria – Vale do Timbó.
Imagem de São Sebastião é a mesma venerada pelos jagunços



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Quinto dia - São João Maria não morreu

          Ontem fiquei em Caçador. Aproveitei para organizar o material coletado até o momento – vídeos, fotos e áudios. Fiz também algumas entrevistas na cidade. E, confesso, descansei um pouco; a viagem a Taquaruçu foi desgastante.

Quinto dia da expedição

Destinos:

Perdizinhas – município de Lebon Régis

Distância de Caçador: 36 km

Serra da Esperança – Município de Lebon Régis

Distância de Caçador: 51 Km


Acesso a Perdizinhas

          Saí de Caçador por volta das 8h30. O céu estava azul, azul. Não havia uma nuvem, sequer. Mas o friozinho e a lição que recebi, quando fui a Taquaruçu, me obrigaram a usar a pesada roupa de proteção. Perdizinhas fica no município de Lebon Regis, há cerca de 40 quilômetros de Caçador. O asfalto é ótimo, mas não vai até perdizinhas. Um trecho é de pedregulho. Para variar não existem placas indicando o lugar. Tudo bem. Quando você passra pela ponte sobre o rio dos patos pode entrar no primeiro acesso à esquerda. É uma estrada de terra. Em se tratando de sítios históricos do Contestado, é mais do que esperado. Aí é só seguir por uns três quilômetros e prestar atenção em uma casa do lado direito da estrada. Em baixo das árvores há um marco do Contestado colocado na época em que Espiridião Amim era governador do Estado. Ao lado do monumento, que por sinal está em completo abandono, pode ser visto uma taipa – uma espécie de muro de pedras encaixadas, muito comuns na serra catarinense – onde os caboclos eram assassinados pelo exército brasileiro. Conforme alguns historiadores, os sertanejos eram colocados dentro do recinto e depois queimados. Maurício Vinhas de Queiroz, que esteve no local em 1954, destaca em seu livro, Messianismo e Conflito Social, que em perdizinhas o capitão Vieira da Rosa havia estabelecido seu comando. Vinhas é um dos historiadores que denuncia a barbárie praticada pela força catarinense - "geralmente os cadáveres eram queimados em grandes fogueiras de grimpas de pinheiro". Perdizinhas foi palco de execuções sumárias e outras arbitrariedades da parte de quem deveria estabelecer a ordem e a lei.
 
Monumento depredado - ao fundo, taipa usada para servir de crematório


          Em Perdizinhas conheci Silvério Nordio Palhano, 21 anos. Ele estava arando a terra para plantar cebola. Silvério mora com os pais e trabalha na agricultura. Ele me mostra os lugares onde costuma encontrar balas de fuzil do tempo da guerra. E me presenteia com duas. Depois vai comigo tentar achar alguma onde o trator acabou de arar. “Aqui eu encontrei doze balas dentro de um cupinzeiro”, diz enquanto aponta para o terreno. Não tive sorte. Tudo bem, já botara no bolso minha herança da guerra. Eram quase 11 horas, o sol tinha dado um pontapé no frio e a roupa de moto me fazia suar em torneiras. A temperatura na região é assim mesmo, muda em questão de poucas horas. Nos despedimos e segui para a Serra da Esperança.


Silvério Nordio

Silvério procurando bala de fuzil

 
O calor me obrigou a trocar de roupa
        

Isso é que é estrada
          Se você que leu o terceiro dia da expedição, sabe o que falei sobre a estrada para Taquaruçu. Agora pense naquela estrada e piore 54 vezes, é a estrada para a Serra da Esperança. É uma buraqueira só. Para piorar, mais de trinta dias sem chover deixa um pó sobre o caminho. A coisa fica insuportável quando os caminhões carregados de madeira passam. Aí era preciso parar a moto. Não dava para ver nada. As pedras soltas são uma ameaça aos motociclistas. Os caminhões, do tipo bi-trem, fazem valos no terreno. É preciso perícia para conduzir a moto. A receita é pneu cheio para não furar, aceleração reduzida e constante para segurar a moto e evitar freadas bruscas. Pilotar devagar, na minha opinião, é pior. Pisar em um seixo a 15 por hora é queda certa. Eu acelerava a magrela e quando tinha uma pedra maior pela frente atacava-a pelo meio. Agredia com o pneu dianteiro e firmava o guidom. Claro que em certos lugares a velocidade precisava ir a quase zero, mas em seguida o giro do motor subia. Tinha vezes que a moto parecia deslizar sobre as pedras soltas. A traseira balançava para um lado e para o outro. Uma curva mais traiçoeira me fez passear pela vala que margeia a estrada. Foi só um susto. Analisei o terreno e tornei a acelerar. 

Caminhões bi-trem estragam a estrada
          Na Serra da Esperança conheci o senhor Virgílio Leão de Carvalho. O homem tem 102 anos. Mora sozinho em uma tapera. Por ter sido indicado pelo filho dele, fui recebido com muito agrado. Contou algumas histórias da época dos redutos e disse que o lugar onde mora era povoado por jagunços. “aqui, o único que não era jagunço era o meu pai. O resto, todo mundo era”. Não vou falar muito sobre ele porque em breve postarei um vídeo dele. Fui convidado para almoçar na casa de Antenor Vieira de Carvalho, filho de Virgílio. Depois do almoço fui visitar uma fonte onde, segundo os moradores, São João Maria pousava ao lado. Para eles a água da fonte é milagrosa. Ainda hoje os caboclos levam os filhos para serem batizados lá. Quem me conduziu ao lugar foi Aloir Alves de Oliveira, 30 anos. Foi 1,5 quilômetros de subida íngreme até a fonte milagrosa. Quando voltávamos Aloir surpreendeu-me com uma pergunta: “O senhor acredita que São João Maria não morreu?” Disfarço e devolvo a pergunta. Fico mais surpreso ainda: “São João Maria não morreu”, enfatizou Aloir. Mais tarde, já em Caçador, fiz a mesma pergunta a um seminarista e ele me deixou desnorteado: "São João Maria nao morreu", respondeu Hilton Wzorek, 17 anos, natural de Canoinhas.

Virgílio Leão, 102 anos
Aloir na gruta/fonte de São João Maria


Hilton Wzorek - seminarista crê que São Joao Maria não morreu

          Depois disso, fui até ao monumento erigido em homenagem aos sertanejos mortos nas lutas que banharam de sangue o sertão catarinense. Já passava das 15 horas quando acelerei a motoca na direção de Caçador. Quando cheguei, parei em uma padaria e fiz um lanche. Estava morto de fome. Cheguei  no bagaço ao meu QG. Tomei um banho saí para fazer outra entrevista.