"Os caboclos eram apegados à religião mas a religião abandonou os caboclos"
Pedro Felisbino mostra arma usada na guerra |
Sabe aquela pessoa que te faz se sentir bem, que te deixa à vontade e que dosa as atitudes de modo que não te sufoque? Sabe aquela pessoa que te dá um sorriso e você não ver outra coisa além de sinceridade? Sabe aquela pessoa que responde tuas perguntas, por mais tolas que elas sejam, com a maior presteza e cuidado de te dirimir toda e qualquer dúvida sem ficar impaciente? Sabe aquela pessoa que, por mais que entenda de um assunto, parece, no primeiro momento, ser tão ignorante quanto você só para não te deixar diminuído? Quem visita Taquaruçu, a primeira cidade santa dos sertanejos da Guerra do Contestado, tem grande chances de conhecer uma dessas pessoas. Ele tem 66 anos e administra o Museu do Jagunço – um pequeno espaço cedido pela prefeitura de Fraiburgo para tentar manter viva a memória do massacre ali ocorrido. É agricultor. É também historiador formado na UNC-Curitibanos. Casado com Lora Felisbino, professora aposentada ele entrou na faculdade aos 61 anos – uma prova de que nunca é tarde para adquirir conhecimento. Natural de Santo Amaro da Imperatriz, foi morar em Taquaruçu aos oito anos. O pai tinha problemas de saúde e o tratamento exigia uma mudança para a Serra. Parou de estudar quando estava no terceiro ano primário. Aos 18 foi servir o exército em Mafra. Dois anos e meio depois, deixou a farda e voltou para Taquaruçu e comprou a terra onde hoje mora com a mulher. Ele está sempre recebendo as pessoas que vão ao lugar buscar conhecimento sobre o massacre que ocorreu ali em 1914.
GM – Quando você passou a se interessar pela história da Guerra do Contestado?
PF – Eu quando era piazote vinha trazer as minhas irmãs pra dançar baile aqui no Taquaruçu, né. Eu era piazote mas já vinha dançar com as morenas. Aqui dava muito baile nas casas das famílias. Fazia o pichirao e eu tava aí com a caboclada, já era amigo deles.
GM – Havia muitos caboclos na época?
PF – Aqui a gente sempre contava 60 famílias caboclas, mais ou menos. Daí foram vendendo as propriedades. Eles não conseguiram sobreviver da terra. A cultura muda muito e eles foram vendendo os terrenos a troco de lata de mel e foram indo para as favelas das cidades.
GM – Quando você percebeu a necessidade de resgatar a história dos caboclos?
PF – A gente já sentia que precisava fazer alguma coisa naquela época, mas quando a gente viu os caboclos vendendo, dando esse material para outras regiões, a gente viu que era preciso resgatar, que esse material tinha que ficar aqui. Aquilo pegou a doer na gente. Depois minhas filhas foram para a faculdade e fizeram monografias sobre o assunto e eu via que o que elas diziam não estava certo. Aquilo foi mexendo com a gente. Nós não podemos deixar a vida passar tão em vazio.
GM – Quando você passou a preservar material relativos à guerra?
PF – Há 40 anos.
GM – Só você fez esse trabalho?
PF – Aqui na região até foi. A Lora sempre trazia jagunços para falar da guerra para os alunos. Vinha o seu Chico Inácio, João Maria Palhano, Noratão...
GM – E a prefeitura, qual foi o papel dela?
PF – A prefeitura, agora, em pleno ano 2000, quando soube que eu tinha esse material aqui no Taquaruçu, incentivou- me a escrever um livro. Daí as pessoas começaram a vir na minha casa. Aí em 2002, 2004 o prefeito me ofereceu a escola que já estava abandonada para nós fazermos o museu.
GM – Em 2004 o sítio histórico de Taquaruçu, o local onde era a cidade, foi coberto pelas águas de um açude. A prefeitura não fez nada para impedir essa barbaridade?
PF – Foi a prefeitura que deu as máquinas para fazer o açude.
GM – Como você vê a atitude da prefeitura?
PF – Eles não têm a consciência histórica. Temos vários políticos que não se preocupam com a história.
GM – E os caboclos, não fizeram nada?
PF – Ah, os caboclos querem apagar a Guerra do Contestado da lembrança deles. A guerra para eles foi um pesadelo. Isso ainda os machuca. Quando falamos da guerra o caboclo muitas vezes enruga a cara. Isso não faz bem para ele.
GM – O que provocou a Guerra do Contestado?
PF – A briga política dos coronéis. Curitibanos disputava com Taquaruçu a hegemonia do lugar. O prefeito de Curitibanos, Albuquerque, foi quem incitou a destruição de Taquaruçu.
GM – Hoje Taquaruçu não existe mais, limita-se a alguns sítios?
PF – É, os caboclos diziam que Taquaruçu foi amaldiçoado.
GM – Os caboclos foram abandonados?
PF – Foram abandonados pelo poder público e pela igreja. Os caboclos eram pegados à religião mas a religião abandonou os caboclos. Os caboclos ficaram desprotegidos da religião porque os padres não aceitavam o sistema dos caboclos.
GM – Os caboclos ainda mantêm a crença em são João Maria?
PF – Sim, ainda batizam os filhos no nome de São João Maria, buscam água na fonte de São João Maria e têm a água como benta. Eles ainda são por São João Maria.
Deveria ter um museu onde pudesse ser reunido as relíquias desta afamada guerra, para que não se esqueça as atrocidades feitas em nome do poder e da politica, tentaram apagar da historia o massacre de um povo humilde, que só queira viver em paz, numa terra que ninguém queria, até o momento que o poder econômico se fez presente...
ResponderExcluirass. R. FREITAS (ESCRITOR)
Sr. R. Freitas, na entrevista está bem claro que existe um museu pelo qual o Sr. Pedro Felisbino zela, e apesar de simples o Museu do Jagunço é surpreendente. Desculpe a indiscrição mas recomendo o Sr. ler toda a reportagem antes de declarar algo, ou esclarecer melhor sua opinião no comentário acima.
ExcluirAs pessoas pensam que falar do Contestado é algo do passado. São pessoas descontadas do mundo real de quem mora no campo. Dizer que um açude construído perto do local do Reduto de Taquaruçu é atrocidade. Para mim atrocidade é pessoas cegas que pesquisam, exploram e comercializam o Contestado e saem com informações vazias e pensam que encontraram tesouro, porque nem sequer conversaram com um caboclo. Quando os caboclos não querem mais falar desse conflito é porque já sentem nojo do comércio e da politicagem que isso virou. Lhes roubam as informações e eles sempre ficam na esperança...Veem livros serem publicados, pessoas levadas ao centenário na câmara federal Enquanto tiver apenas pesquisadores, estudantes, historiadores... pensando que Contestado é falar mau das pessoas que moram na região do conflito, o governo lava as mãos e a história continua. Por outro lado, ainda é possível pedir aonde os caboclos de Taquaruçu pescam. No açude de seu Pedro parece-me que não.
ExcluirSr. R. Freitas, na entrevista está bem claro que existe um museu pelo qual o Sr. Pedro zela, e apesar de simples é surpreendente, desculpe a indiscrição mas é preferível que leias a reportagem antes de comentar, ou então esclareça melhor o que quis dizer.
ResponderExcluiresta arma mostrada pelo senhor Pedro é em calibre 12?
ResponderExcluirta uma bosta pora to cansado de ser enganado
ResponderExcluirsite mais podre que isse nao tem pege na besinha tem uma cava
ResponderExcluirO museu acima citado foi roubado e todas as armas de fogo foram levadas, este roubo foi agora em 2019,
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